O útero
– Com toda a sua carga simbólica –
pinçado
por pernas goivadas de tesoura:
incomparável com um braço
com um beliscão no braço
até mesmo incomparável com a boca
uma mordida na boca.
O útero
aberto para receber a sombrinha-medusa
o biombo tentacular
como a espinha dorsal de algum peixe frio.
Para que uma mulher abre as pernas
diante da língua dura do espéculo
e põe ALI uma cortina de ferro?
Acompanhada pela música do amolador de facas
a mulher afia a filigrana de sua loucura
sexar sexar sexar
cerrar abrir serrar
a passarela da respiração
tensionar os limites do gozo
chegar à borda negra.
A mãe extraída da puta
com a extirpação do horto
a mulher-a gema
aberta-diluída
para receber sem perigo o lodo
como um buraco na areia.
À tarde – na tarde desmaiada –
quando o útero vai regressando à sua matriz
como um cesto tecido de moluscos
mesmo sabendo que não pode exercitar os membros
a mulher se abre provocando a entrada.
Que descompasso o pulso do amante
quando penetra e cede
a seda vermelha do hímen.
Que despreocupado agora
– o pescoço torcido do útero
selada a boca fria –
certo
de que não haverá braços que lo puxem.
Quando a língua da medusa começa
sua cócega indefesa
o amante ainda sorri com a cabeça erguida
e pega dentro – amordaçando –
com o peixe-martelo / com o peixe-serra / com a mão aberta.
Nos portões do horto
quem se atreve a chamar
com aquela golpeada surda?
Tateando
ruborizado
ao redor da glande brilhante
– Como o fígado cru
como o fígado vermelho
retraindo
como uma anêmona assustada
sombrinha
rítmica
crava e mostra as hastes
lamber
e sangra
se acomoda
e morde.
Jamila Medina
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